A Terceira Inteligência Nas Empresas
A
TERCEIRA INTELIGÊNCIA NAS EMPRESAS
Nas
empresas, a liderança ou o modelo de gestão que se fundamentar na Terceira
Inteligência, certamente terá colaboradores muito mais comprometidos,
motivados, felizes e, por conseqüência, mais produtivos.
Floriano
Serra*
Sei
que o Goleman agitou um bocado o campo comportamental nas empresas,
especificamente o das relações interpessoais, quando resgatou o que ele chamou
de Inteligência Emocional e que, em essência, nada mais é do que aquilo que a
Psicologia há tempos, através de várias formas e teorias, já vem propondo
para o auto-conhecimento, o controle das emoções e o desenvolvimento da
empatia e da habilidade de estabelecermos comunicações harmoniosas. Qualquer
estudioso mais atento da dinâmica do comportamento humano sabe disso.
O que venho
defendendo através de artigos, entrevistas e palestras – e, daqui a mais um ou
dois meses, também através de um livro, “A Terceira Inteligência” – é
que não basta um perfeito domínio das emoções para assegurar que estamos no
caminho certo, em direção ao sucesso e à felicidade – objetivos que só
podem ser atingidos sob a condição da pessoa estar bem consigo mesma e com as
demais pessoas.
As
ações motivadas exclusivamente pela emoção quase sempre têm fortes
componentes de busca do prazer ou de fuga de desconforto. Nestes casos, o
comando para a ação (ou a falta dela) é “faço porque gosto” ou “não
faço porque não gosto” – entendendo-se aqui o verbo “gostar” da
maneira mais ampla e irrestrita possível.
A questão que
proponho para a reflexão do leitor é:
– “Ok, faço
porque gosto. Mas que garantias eu tenho de que minha ação, motivada pela
minha emoção, ainda que perfeitamente administrada, será boa também
para as outras pessoas? “
Se
eu não tiver essa garantia, minha ação emocional apenas refletirá um baita
egocentrismo: “é boa para mim, os outros que se danem!”. Ou seja, o
perfeito conhecimento e controle da inteligência emocional não garante
necessariamente que a ação seja saudável, legal, ética e útil. Daí
existirem a manipulação e a famigerada chantagem emocional.
Alguém
poderá contra-argumentar: “ah, mas é justamente para evitar isso que existe
a racionalidade! Se unirmos as duas inteligências, a racional e a emocional,
então teremos a ação ideal, certo?”
Errado.
O
processamento racional do conhecimento e das informações nos conduz à ação
dita “lógica” e nos induz a fazer aquilo que acreditamos que nos convém ou
que nos interessa.e não necessariamente ao que é legal, ético e saudável.
No
mundo corporativo ou fora dele, razão e emoção não têm moral: as grandes e
inteligentes fraudes financeiras ou os dramáticos crimes passionais acontecem
justamente porque sua dinâmica de ação parte desse binômio: me interessa (ou
me convêm) e me agrada (ou me satisfaz). É esse o processo que, em
termos existenciais e comportamentais, alimenta, de forma distorcida, a lei de
causa e efeito: “se eu agir assim, sairei ganhando (racional) e isso é bom!
(emocional)”
O crivo que está
faltando para assegurar que nossa ação, atitude ou comportamento serão
positivos é o da avaliação das conseqüências da nossa ação para o outro,
para os amigos, os colegas de trabalho, a empresa, a comunidade, a sociedade. É
fundamental um auto-questionamento:
– O
que e quanto há de generosidade e de solidariedade nesta minha ação?
– Estou
produzindo alegria, sorrisos e felicidade também aos outros ou, pelo contrário,
estou causando preocupações, angústias, sofrimentos e lágrimas?
– Estou
somando ou multiplicando competências, crescimento e bem estar ou estou
diminuindo e dividindo sentimentos, pessoas, equipes e comunidades?
A
Terceira Inteligência é simples assim. Ela se sobrepõe a conveniências
pessoais e a interesses meramente materiais e caracteriza as ações
sobretudo pela generosidade e pelo respeito ao próximo. É ela que nos faz
transcender ao ego, como diz o Deepak Chopra, fazendo-nos substituir a pergunta
“O que vou ganhar com isso?” por “Como posso ajudar?”
Certamente
a Terceira Inteligência tem um forte componente espiritual – e aqui é
importante que se diga que isso não implica necessariamente em práticas e
conceitos religiosos. A dimensão espiritual que defendo com a Terceira Inteligência
tem a ver com o desejo sincero de compartilhar, sem discriminações de raça,
cor, credo, aparência e posses, pela consciência de que tanto uma empresa como
a sociedade e o mundo inteiro é uma grande família. Como se todos soubessem
que, como disse o poeta americano John Donne, “nenhum Homem é uma ilha,
isolado em si próprio (…) e que quando os sinos dobram – por mais longe que
estejam – também dobram por cada um de nós, porque a raça humana é um todo
composto por irmãos.
Nas
empresas, a liderança ou o modelo de gestão que se fundamentar na Terceira
Inteligência, certamente terá colaboradores muito mais comprometidos,
motivados, felizes e, por conseqüência, mais produtivos.
Não sou tão ingênuo
a ponto de acreditar que será fácil vender essa idéia a empresários e
gestores, para os quais, com poucas e honrosas exceções, o poder é um
irresistível objeto de desejo. Eu apenas planto sementes. Minha vantagem é que
sou teimoso e persistente pra caramba – sem o menor receio de ser taxado de
sonhador ou utópico.
Quando
encontro pessoas que concordam comigo, fico muito feliz.
Quando
alguém discorda, não me aborreço, mas considero isso um desafio – e todo
desafio me estimula. E tudo que me estimula me alegra e me diverte.
Logo,
nessa missão de humanizar as relações profissionais, tenho alegria e diversão
garantidas – de uma forma ou de outra.
*
Floriano Serra é psicólogo e Diretor de RH e Qualidade de Vida da Apsen Farmacêutica.
Lançará em breve seu mais novo livro “A Terceira Inteligência”. floriano.serra@apsen.com.br
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