A ergonomia tem uma data oficial de nascimento: l2 de julho de l949. Nesse dia reuniu pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar e existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência. Na segunda reunião desse mesmo grupo, ocorrida em l6 de fevereiro de l950, foi proposto o neologismo ergonomia, formado dos termos gregos ergo, que significa trabalho e nomos, que significa regras, leis naturais. Este termo já havia sido usado anteriormente pelo polonês Woitej Yastembowsky (1857) que publicou o artigo “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”, mas foi só a partir da fundação, no início da década de 50, da Ergonomics Research Society, na Inglaterra, que a ergonomia se expandiu no mundo industrializado.
A Ergonomia tem muitas definições, no entanto, todas apontam para a relação adequada do trabalhador com seus meios de trabalho, incluindo todas as condições nas quais ele ocorre. A seguir, são citadas alguns conceitos encontrados na literatura sobre o tema:
a) Ergonomia: “É a disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema” (Associação Internacional de Ergonomia – IEA , VIDAL, 2003).
b) “É o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia.” (WISNER, 1987).
Em suma, a ergonomia busca desenvolver serviços e produtos que atendam as necessidades do maior número de pessoas (ex.: carro, cadeiras, etc.). Ela conta com os conhecimentos de diversas disciplinas: medicina, engenharias, antropometria, psicologia, fisiologia, etc. para estudar a relação do ser humano com o trabalho e transformar as condições nas quais ele está inserido para oferecer saúde, segurança e conforto ao ser humano, seja no ambiente de trabalho ou fora dele.
Esse conforto não pode ser entendido como um excesso de cuidado, mas sim, como economia de esforços físico e psíquico. A ergonomia tem a ver com cuidado com o corpo, com seus objetos de trabalho, com as relações humanas. Praticá-la apenas no trabalho não faz sentido, é preciso levá-la para o lar e para atividades de lazer. Pois, o âmbito da qualidade de vida é muito amplo.
Entende-se que a qualidade de vida é mais do que ter uma boa saúde física ou mental. É estar bem com você, com a vida, com as pessoas queridas, enfim, estar em equilíbrio. Essa questão requer muitos cuidados: hábitos saudáveis, cuidados com o corpo, atenção para a qualidade dos seus relacionamentos, balanço entre vida pessoal e profissional, tempo para lazer, saúde espiritual e outros.
A Organização Mundial de Saúde definiu qualidade de vida englobando cinco dimensões: saúde física, saúde psicológica, nível de independência, relações sociais e maio ambiente. Dessa forma, qualidade de vida equivale a uma interação saudável do indivíduo consigo e com o meio. De uma forma bem resumida, pode-se dizer que qualidade de vida é investir em si mesmo, abandonando hábitos e atitudes prejudiciais, assumindo hábitos saudáveis. (Qualidade de vida = estilos saudáveis de vida).
A ergonomia se insere nesse contexto como uma ciência multidisciplinar que irá contribui com a promoção do equilíbrio da relação do ser humano com as situações nas quais ele está inserido, independente se ele realizará atividade laboral ou não. Por contar com conhecimentos das mais variadas disciplinas, a ergonomia torna-se significativamente ampla.
A seguir são citadas algumas recomendações de boas práticas para o cuidado com o corpo no cotidiano, uma vez que, muitas vezes somos vítimas de danos à saúde porque não temos consciência de que eles existem, muitas vezes até mesmo em nossos lares. Estamos sujeitos aos riscos a todo o momento, em qualquer lugar ou situação. Normalmente em casa ou em situações de lazer nós relaxamos nesse aspecto e acabamos sobrecarregando nosso corpo.
Pequenas tarefas rotineiras podem gerar grandes desconfortos ou até mesmo lesões dolorosas.
Como prevenir das tarefas que parecem tão inofensivas, mas na verdade são prejudiciais ou até mesmo muito perigosas? Prestando atenção aos possíveis riscos.
Na cozinha, evitar guardar latas pesadas, com alimentos, em lugares muito altos (ao apanhá-los há risco de caírem causando acidentes e também exige estiramento da coluna podendo trazer danos).Guarde objetos pesados na altura da cintura e os mais leves no alto ou embaixo.
Ao carregar baldes com água, evite enchê-los demais e também evite dobrar o tronco ao suspendê-lo. Dobre os joelhos de forma que sua coluna permaneça ereta.
Evite torções desnecessárias com o corpo, principalmente ao segurar pesos. Gire os pés e o corpo inteiro nessas situações para preservar a saúde da sua coluna.
Evite manusear excessos de pesos (sacos de cimento, por exemplo). Conte com auxílio de carrinhos.
Não coloque peso na cabeça.
O corpo humano foi feito para movimentar-se. Varie as posições de vez enquando, principalmente no local de trabalho.
Sente-se adequadamente, apoiando pés no chão e a coluna no encosto da cadeira.
Ao carregar peso, divida-o nos dois braços, não o segure de apenas um lado do corpo.
Não atenda telefone colocando-o no ombro.
Use roupas e sapatos confortáveis. (Roupas justas dificultam a circulação sanguínea.).
A ergonomia não se refere apenas às questões posturais. Conforme afirmado anteriormente, ela estuda a relação do ser humano com o trabalho e visa também identificar problemas reais no cotidiano das empresas. Ela dialoga com os profissionais envolvidos (empregados e empregadores) e objetiva transformar as condições nas quais o trabalho é realizado para que ele esteja adequada às características psicofisiológicas dos trabalhadores, proporcionando-lhes segurança, conforto, preservação da saúde e aumento da produtividade para a empresa. A ergonomia é um conjunto de técnicas de gestão que pode auxiliar no melhor planejamento do trabalho para que haja economia de custos, de esforços, de tempo e melhoria na qualidade dos resultados. Assim, ao transformar as situações de trabalho, a ergonomia considera: a) fatores técnicos: máquinas, equipamentos, programas de manutenções preventivas e corretivas; b)fatores humanos: capacidades e limitações físicas e psíquicas do ser humano; c) fatores ambientais: iluminação, ventilação, ruído, qualidade do ar e d) fatores sociais: organização do trabalho, relações humanas, divisão do trabalho, turnos, formas de remuneração, jornada de trabalho, pausas e outros.
Uma empresa pode ter como um diferencial competitivo diante da concorrência a inclusão de diretrizes ergonômicas às suas estratégias. Uma sugestão é um programa de prevenção que pode proporcionar economia à empresa, orientar os empregados a realizarem o trabalho, amenizar sobrecargas físicas e psíquicas evitando afastamentos e perdas de produtividade, proporcionando um ambiente saudável com qualidade de vida aos seus funcionários.
Para um melhor aprofundamento do tema, são citados alguns autores em seguida:
ABRAHÃO, J. I. [et al.] Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo: Blucher, 2009.
GUÉRIN, et. al. Compreender o trabalho para transformá-lo. A prática da ergonomia Tradução: Giliane M. J. Ingratta e Marcos Maffei, São Paulo: Edgar Blucher LTDA, 2001.
SOARES, E. B. Mediações organizacionais e instrumentais em televendas e devoluções de medicamentos. Dissertação (mestrado). Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, Belo Horizonte, 2009.
VIDAL, M. C. Guia para análise ergonômica do trabalho (AET) na empresa. Rio de janeiro: Editora virtual científica, 2003.
Minicurriculo da autora:
Eva Bessa Soares
Mestre em Engenharia de Produção (Linha de pesquisa: Ergonomia e Organização do trabalho) – UFMG
Especialista em Ergonomia aplicada à saúde do trabalhador – PUC/MG
Psicóloga (ênfase em psicologia organizacional) – PUC/MG
Palestrante, Consultora em ergonomia e Recursos Humanos, Orientadora de cursos no SENAC/MG.
Contatos: (31) 9151-8558
ergonomiaabessa@yahoo.com.br / evabessa@ufmg.br