Que somos lifelong learners e seremos eternos novatos, já é sabido desde quando Vygotsky nos provocou para o fato que o desenvolvimento humano ocorre a partir de diversos elementos e ações durante a vida e que a interação tem um papel fundamental para essa formação e para a aprendizagem. E aí vem a tecnologia que dialoga e aprende com a gente, são os learning bots.
No atual cenário corporativo, em que as empresas estão precisando se reinventar e criar novas formas de se medir a produtividade, com a tecnologia está mudando a forma de se trabalhar em todo o mundo, que tal evoluirmos também a forma de entregar, estimular e absorver conhecimento, partindo do conceito de lifelong learning?
Pensando nisso, é chegada a hora de ampliar o leque de processos que permitem níveis de interação cada vez mais complexos e naturais, e isso é positivo para todo mundo. Entenda um pouco mais sobre os learning bots.
Digital e natural, porque é um digital que aprende
Algo que vem me chamando a atenção há algum tempo é o fato de que os bots (chatbots, voicebots, assistentes virtuais e afins) estão se tornando uma opção cada vez mais popular para interação, sendo que, quanto mais baseados em inteligência artificial e machine learning, mais podem “dar match” com a aprendizagem. Eles estão aprendendo a entender a linguagem humana e estão ganhando mais recursos para reconhecer tom, emoções e nuances com significado.
Mas será que os bots ou assistentes virtuais podem ter conversas hábeis e serem relevantes a ponto de realmente se tornarem um auxiliar de peso no desenvolvimento profissional das equipes? Sim, porque os chatbots possibilitam interação e acolhimento à distância por meio de sua alta capacidade de comunicação (texto, imagens, emojis e até memes), disponibilidade 24/7 e escalabilidade.
No nosso laboratório de Inovação, o Unboxlab, uma das hipóteses mais pesquisadas nesse cenário de robôs é o quanto essa tecnologia trataria dores reais em torno de rápida disseminação de informação, engajamento de colaboradores em temas estratégicos e acesso e compartilhamento de gestão do conhecimento represada em silos. Além disso, com cada vez mais insights sobre aprendizagem ao longo da vida, social e informal, despertamos para o estratégico papel da interação e do diálogo.
Aprendizagem dialógica embasando tudo
O que temos agora, aplicativos e robôs para troca de mensagens e que nos ajudam a tirar dúvidas a respeito de diferentes assuntos, é apenas reflexo da revolução tecnológica.
Só que a aprendizagem dialógica e os agentes conversacionais são peças-chave nesse processo e trazem um imenso desafio: uma conversa que flui é como uma dança complexa, na qual cada pessoa precisa se revezar no fluxo de palavras, em sua contribuição e em entendimentos sutis como percepção de contexto, empatia, análise de sentimento, adaptabilidade e linguagem.
De um ponto de vista quantitativo e de resultados práticos, atualmente os bots são uma das formas mais usadas para automatizar processos, gerar dados, acompanhar performance e acelerar resultados e que, se bem desenhados, possibilitam também a reflexão sobre assuntos relevantes em ciclos de aprendizagem. Além disso, os bots têm uma longa história de uso como agentes pedagógicos, e muita coisa evoluiu principalmente devido à aplicação de design para criarmos bots envolventes, úteis e que não apenas aproveitem ao máximo a tecnologia embarcada, mas também se relacionem com questões contextuais e socioeducacionais.
Para uso em aprendizagem e desenvolvimento profissional, o bot precisa ser desenvolvido a partir de um grande conhecimento de aprendizagem e de pensamento lógico, juntamente com design conversacional e UX writing. Isso porque existe um verdadeiro abismo entre um bot que opera como um FAQ para um que realmente dialoga e apoia o indivíduo em sua própria construção.
Temos exemplos reais, e próprios, de bots que dialogam, coletam dados, cruzam com tendências e regras de negócio e recomendam mapas reais e possíveis de aprendizagem. Não só recomendam, apoiam e engajam enquanto aquele desafio fizer sentido para o participante, 24/7.
O robô como agente pedagógico?
Sim! Quando falamos em benefícios, o uso de learning bots impacta tanto para o aprendiz quanto para áreas de RH, T&D, universidades ou qualquer área que viabilize experiências de aprendizagem. Já que obtém dados que são indicadores poderosos.
Enquanto atuam como um parceiro do processo de aprendizagem, trazendo ritmo, conexão e engajamento nas atividades, acelerando consumo e desenvolvimento, inclusive desencadeando conversas para aprendizes identificarem problemas e soluções por si próprios, eles estimulam o protagonismo com atividades que, além do óbvio aspecto ativo, também mapeiam preferências e prioridades. Tornando o processo de aprendizagem cada vez mais personalizado.
Além disso, eles têm o poder de engajar e envolver fortemente devido ao design conversacional e empático e, lá na ponta, geram dados que permitem análise e insights para retroalimentar decisões tomadas pelas áreas de aprendizagem e desenvolvimento.
O aprendiz é o protagonista
Mas, é importante ressaltar, que mesmo agregando poderio tecnológico, aceleração na curva de aprendizagem e aumento de engajamento, um learning bot e sua IA precisam se basear no que é o mais importante: o aprendiz como sujeito ativo e protagonista deste processo cada vez mais interativo.
E é exatamente por isso que o learning bot precisa fluir como um assistente que contribui com o aprendiz, que é o verdadeiro protagonista dessa transformação, atuando como um dos diversos elementos de um ecossistema imenso que abrange tudo que existe no contexto do aprendiz, pois tudo pertence e tudo colabora.
Sobre a autora
Barbara Olivier sempre se envolveu em projetos de tecnologia, aprendizagem e design e, hoje, é CIO de Inovação e Tecnologia da Afferolab, focada em estratégia e gestão da inovação na empresa, desenho de ecossistema de ofertas, criação de produtos e redesenho organizacional para transformação digital. É formada em Tecnologia e pós-graduada em Computação Gráfica e Multimídia, com formações também em educação a distância, gestão do conhecimento, design digital, inovação estratégica, além de especialização em Foresight, pelo Institute For The Future; e em Blended learning, pela ATD, ambos nos EUA. Já ministrou palestras em eventos como e-Learning Guild, Online Educa Berlim, Festival Path e Fórum e-Commerce Brasil.