Por Emanuella Velez, Psicóloga, Top Voice Linkedin e fundadora da página Virei RH no Instagram
Já percebeu que mesmo em meio a uma crise mundial como a que estamos vivendo, os relatos de pedido de demissão continuam em alta? E alguns já podem me dizer: no mínimo, o profissional deve morar com os pais ou ter estabilidade financeira por um bom tempo. E a verdade é que não, pelo menos não é isso o que os dados nos mostram.
Segundo a pesquisa divulgada pela Você S/A, mais de 500 mil trabalhadores tem pedido demissão de suas empresas, ou seja, meio milhão de profissionais por mês. Um número alarmante se analisarmos os altos índices de desemprego no Brasil – mais de 13 milhões. Pensar nessa possibilidade e correlacionar ao fato de que o trabalhador está abrindo mão de “todos os seus direitos” é algo para se questionar: Porque as pessoas simplesmente estão apresentando um pedido de demissão? Seria talvez um pedido de liberdade?
A “Grande Resignação”, nome dado ao fenômeno que não é particularidade nossa, mas também de países como EUA. A grande questão levantada ao analisar os dados, embora eles tenham sido apresentados de forma quantitativa, é que de algum modo houve uma grande mudança no mundo do trabalho, e as pessoas não estão mais em busca de algo apenas para pagar as suas contas.
Estamos vivendo uma revolução gigantesca, onde propósito tem sido considerado um dos requisitos para se permanecer dentro de uma organização.
A rotatividade dentro das empresas tem sido altíssima, de acordo com a mesma pesquisa, os pedidos de demissão representam um turnover de 15% nas vagas com carteira assinada. Ou seja, nesse número não foi levado em conta as demissões por comum acordo.
E diante de tudo isso, percebo que o grande desafio das organizações é reconhecer as pessoas como o seu maior capital ativo, e caso nada seja feito, a tendência é piorar o cenário. A mudança geracional no mercado de trabalho já começou e os “nativos digitais” como é chamada a Geração Z, tem algumas características peculiares.
Eles prezam por transparência e autenticidade em suas relações, além de exporem de forma bem mais aberta as suas fragilidades. Um ponto destacado na pesquisa é que a maioria dos pedidos de demissões, são de jovens com menos de 30 anos, reafirmando ainda mais que o senso de urgência em relação às próprias expectativas é um ponto prioritário.
Para que as empresas saiam da lista de comemorações, onde frases como “Uhu, pedi demissão. Graças a Deus”! É preciso pensar de forma estratégica e, claro: equilibrada. O cenário mundial, diante dos contextos de mudanças gerados pela própria pandemia, aponta que os profissionais pedem demissão de uma empresa quando estão em busca de:
- Ganhar um salário melhor– é isso mesmo, dinheiro! E “salário emocional” não conta, não adianta ter paredes coloridas, jogos de boliche e trampolim, se no final do mês as faturas não entram na brincadeira e deixam o dia bem mais escuro.
- Ambientes saudáveis– então nada de “trabalhar sob pressão”, porque ninguém aguenta mais esse discurso. Trabalhar nesse ritmo é doentio e insalubre, empresas que possuem essa fala, no mínimo tem chefes que se acham incríveis e gostam de acreditar que fazem gestão. Saúde mental é necessária, e isso deve ser amplo em todos os sentidos.
- Qualidade de vida– exatamente, e nem ache que isso é mimimi. Sabe aquela música “A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão, balé. A gente não quer só comida, a gente quer a vida como a vida quer…” Pois é, o mundo (a vida eu diria) não se resume a trabalho, e muita gente já entendeu isso.
Sim, estamos vivendo um ritmo acelerado eu sei. Também compreendo que o mundo nos diz a todo tempo que é preciso construir um legado, ser forte e seguir em frente. “Desistir não é opção”, afinal de contas: “foguete não dá ré”, mas ainda bem que também estamos vivendo uma quebra de paradigmas quanto ao mundo organizacional e produtividade a todo custo. Saúde mental tem feito parte da pauta de muitos, e como profissional de Psicologia e de Recursos Humanos, isso muito me alegra.
E por isto meu caro leitor, faço questão de te lembrar: sim, um pedido de demissão pode ser um sinônimo de liberdade em alguns casos, pois as pessoas entenderam que não dá pra construir absolutamente nada, seja a nível de resultados ou financeiro dentro das organizações, se elas estiverem em pedaços.
Agora que você já sabe o que pode levar um colaborador a entrar com o pedido de demissão. Confira também o nosso artigo sobre as 10 práticas fundamentais para uma demissão humanizada.